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    Sem saber


    280 portas fechadas o dia todo e não há quintal. 20 apartamentos preenchem um corredor com formato de "U", dando de cara para a mureta de concreto e a parte de trás do hospital.
    Existem pessoas morando sozinhas, com seus gatos, seus cachorros, sua micro família que cresce em um ambiente atrofiado e não há lugar nenhum para correr. Existem histórias lá dentro - duvido muito que alguém more aqui desde seu primeiro dia de vida (a não ser os animais). 
    Não há como observar a rua. Não tem como observar as crianças brincando pois não há como brincar lá fora. Não há confiança em ninguém e não há abertura para pedir uma xícara de açúcar do vizinho ao lado - ninguém mais se conhece.
    São 280 histórias que ficam no anonimato.
    Não sei o que o vizinho faz da vida e nem ele sabe o que eu faço. O pouco que conheço é do seu gosto musical (e sexual). Dá para saber quando alguém do andar de cima discute com o namorado. Dá pra saber que você é uma das inquilinas mais quietas e que mais passa o tempo em casa. 4 paredes, alguns passos, pouco espaço, uma janela que não dá de cara com terra e árvores. Recebe o vento estranho, que precisou desviar de diversos prédios para chegar até aqui. E sem poder deixar as cortinas abertas - há sempre alguém de olho em seus detalhes. Aqui de cima dá pra ver o quão as pessoas são desorganizadas, quais delas trabalham fora, quais delas são idosas e quais haveria uma possibilidade de conquistar uma pequena amizade com o passar dos anos.
    É aqui o lugar que moro: sem identidade, sem conhecer quem morava aqui antes, sem saber se alguém morreu aqui, sem conhecer o dono, sem saber quando vou embora.
    Simplesmente sem saber.
    E durante a semana, as tardes são ainda mais silenciosas.

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