Desde que nasci, meu pai era quem fazia o Natal de muitas crianças na cidade em que cresci, Cotia. Ele se fantasiava de Papai Noel e combinava com os pais para entregar o presente para cada uma delas. Além disso, distribuía balas que eram doadas pela casa de doces e quem mais pudesse ajudar para as crianças mais carentes. Era mágico ver o esforço que meu pai fazia para botar o sorriso em cada uma das crianças que chegava perto. Meu pai sempre teve bom humor, algo que certamente herdei porque, cá entre nós, mesmo que eu esteja passando por essa fase, quem me vê sabe e conhece meu humor.
Por esse lance do meu pai ser o Papai Noel de muita criança, eu nunca tive um só pra mim. Portanto, nunca acreditei em Papai Noel. Não desmerecendo o trabalho bonito que meu pai teve durante mais de 15 anos (se não me engano) mas, eu cresci não tendo aquela coisa de ficar esperando na janela por ele, nem de receber presentes do bom velhinho. E eu era doida pra contar pra todo mundo que era uma grande mentira, mas aí estaria desmascarando meu pai.
Certa vez, um dos meus vizinhos deixou para entregar um video-game que eu queria muito pra mim, mas muito mesmo. E eu queria muito contar para a criança de que o Papai Noel era o meu pai. Minha mãe não deixou e ficou muito brava comigo. Acho que foi a primeira vez na vida que senti inveja de alguém. E foi doloroso porque eu não tinha um video-game pra mim, tinha uma coleção de Barbies que, na verdade, nunca gostei muito. A não ser da minha primeira, que tem toda uma história engraçada por trás (e que não cabe contar aqui, quem quiser saber que me pergunte!), e que ganhei da minha tia.
Durante todo esse tempo eu e minha mãe passamos o Natal sem meu pai. E numa época, sem meu pai e sem meu irmão mais velho, porque ele se fantasiava pra ajudar meu pai nas entregas dos presentes e da distribuição das balas. Ou seja, família pra mim no Natal nunca foi como a de muita criança por aí. O que meu pai fazia era lindo, hoje eu entendo isso, mas pra isso, tive que aprender a lidar com muita coisa. Sentia inveja das outras crianças por ganharem brinquedos incríveis e eu não. Não que não tenha ganhado brinquedos incríveis, mas não era a mesma coisa.
Inconscientemente, eu adoraria ter um Papai Noel só meu, mas nunca tive.
E o espírito do Natal que já quase não existiu pra mim, vai perdendo todo o sentido.
Já não tenho avôs e avós.
E já não tenho tanto humor assim...
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