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    Aos 26


    Tão impossível quanto achar que água engorda, que o cheiro de alho sai dos dedos apenas com um pouco de água, que cabelo não cai. Intangível. Inalcançável.
    O dia amanhece e eu passei a noite em claro, a ver navios. Talvez a desenhar formas abstratas no teto, na parede, no chão. Resolvo levantar da cama e escrever um pouco - talvez me traga um pouco de paz de espírito e calma no coração. Talvez não.
    Vivo a imaginar o mundo perfeito, ao meu modo. Eu adoraria não ser tão intensa e assustar quem se preocupa. Ou, mesmo assim, talvez não. Eu me ocupo, me permito. Mas hoje, não.
    O ócio é uma máquina malígna e viciosa: te dá espaço para pensamentos fervorosos e inconsequentes. Eu já passei dos limites entre a razão e o coração. E nada soa como engraçado. Intangível na forma de ser, incabível nos atos, infeliz com os acontecimentos e distante do mundo - essa sou eu no mês do meu próprio aniversário.
    Depois de amanhã, os 27. E eu, que imaginei tanta coisa para os 18, aos 26 não saber o que quero é corriqueiro. Aos 26 não sentir-se viva é algo extremo. E aos 26 não sentir os pés no chão é impressionante.
    Aos 26 não controlar o que sente. Aos 26 transformar aquilo que sente num verdadeiro jardim do inferno. Aos 26 não ser mais transparente. E aos 26, transtornar não só sua própria vida.
    Aos 26 não ter para onde caminhar. Aos 26 não completar letras de música. Aos 26 não aprender a amar. Aos 26 eu tenho que enfrentar: sozinha, entre quatro paredes, em uma atmosfera só minha, em um cantinho só meu. Aos 26 eu tenho que levantar a cabeça: desafios, metas, projetos. Botar em prática.
    Aos 26. Falta pouco para que eu largue os 26.
    E me despeço dos 26 com um olhar triste e cansado. Um olhar vazio e distante. Eu não gostei dos meus 26. Quero tudo diferente do que foi aos 27.

    Sinceramente, o mundo não pode acabar antes que eu consiga ter um sorriso no rosto antes.
    "Mesmo que de canto".

    Os vizinhos acordam pra trabalhar e eu não consigo dormir.
    "Ora, francamente."

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