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    Dois para uma


    Avisa lá que o um dia novo chegou, que o sorriso tá estampado, a comida tá no fogo e é preciso deixar o desespero de lado. Avisa que a partir de agora novas coisas acontecem, novos personagens aparecem, novas formas surgem e os fios de cabelo só vão caindo. Avisa que chegou a conta de luz, a de telefone, a do condomínio. Avisa que tá atrasado, tá correndo, tá partindo. Avisa.
    Avisa. A vida. A diva. A vista.
    Avisa!
    Fez efeito já: todo dia às 6h, todo dia às 0h. Dois comprimidos mágicos, dois momentos únicos e meus. Dois. Dois para um. Dois para uma. São dois, duas repartições, dois pedaços, dois círculos, dois espaços. Um banheiro, um quarto, uma cozinha. Não tem sala. Não tem sofá. Não tem varanda. Só paredes. Paredes únicas.
    Tem o cheiro de tempero vindo da casa do vizinho. Tem o vizinho que ouve música francesa. Tem o vizinho travesti. Tem a vizinha reclamona. Tem a vizinha enfermeira. Tem a vizinha que trabalhou comigo. Tem o porteiro que compra perfume de mim. Tem gente. Cada um em seu espaço e todos reunidos ao mesmo tempo.
    Não sou eu quem está se excluindo, é o mundo que está se fechando. Não é você quem está sumindo, é o mundo que tá te afastando. (..."não é o prédio que tá caindo, são as nuvens que estão passando"...). E todo dia eu não boto o nariz pra fora de casa. E todo dia ouço as mesmas músicas. E todo dia bagunço meu cabelo, minhas tralhas, minha vida. Todo dia é um dia igual ao outro. Igual a ontem, igual a amanhã. Igual a sempre. Sempre igual. E desigual. Inigualável. Sem igual. Único e irregular. 
    Suspiro.

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